terça-feira, julho 18, 2006

A maldição da coruja



Havia um nome todas as noites.
Ao entardecer, quando recolhia a casa, Mateus rezava para que, mais uma vez, não fosse o seu.
Sabia que a sorte não podia durar para sempre. A população da aldeia era escassa e já não restavam muitos nomes. Chegou a pensar em fugir para o outro lado das montanhas, onde a voz da coruja não se fizesse ouvir. Ainda assim não era certo que escapasse à morte quando a ave agoirenta gritasse "Mateus".
Havia rumores de outros que tinham fugido e tinham acabado por morrer na mais completa solidão, longe daqueles que amavam e sem uma mão amiga para agarrar no momento da partida. Ninguém sabia como esses relatos ali chegavam. Mas... e se fossem autênticos?
No desespero de uma saída alternativa, à hora de dormir, beijava os filhos, acariciava-lhes os cabelos e sorria-lhes, com ternura. Depois, ia deitar-se ao lado da mulher, passava-lhe o braço pela cintura e pegava-lhe na mão, com força, como se pela última vez. Tentava adormecer e, no mais profundo pânico, esperava.
(inspirado no romance "I heard the owl call my name", de Margaret Craven)

7 comentários:

Isabel José António disse...

Sempre o mesmo dilema, entre: Descobrir o novo ou, em alternativa, contentar-se (ou resignar-se) com o velho ou o que já é conhecido.

Qualquer das hipóteses, implicará sempre os seus riscos.

Haveria que ter o discernimento, vindo dos olhos da alma, para ou partir ou ficar, conforme a situação e a intuição assim o determinasse.

Partir para me perder ou encontrar?
Ficar para me salvar perdendo-me?

Muito bom post

Um abraço

José António

Maria Carvalhosa disse...

Obrigada, José António. Os teus comentários são sempre assertivos e os elogios exagerados.

Um beijo amigo.

João Villalobos disse...

Gostei mesmo muito. Vou procurar o romance. Bj

prologo disse...

Sabes o que leio aqui, ao ver um texto que tem palavras e propõe (num mundo agora descrito como inequívoco e em que estes medos deveriam parecer ridículos e não ter eco nem ser metáforas da existência), um reflexo inconsciente de prudente incerteza? Leio, nas tais palavras que não estão, a forma como o conhecimento se enrolou sobre si próprio e gerou, nesta afortunada era da informação, uma nova Babel em que já não é a diversidade das línguas a fonte da complexidade, mas a acumulação do conhecimento que na sua multiplicidade e quantidade, tornou a ignorância um estado inevitável e, outra vez, deu ao medo a oportunidade de retomar o seu lugar...

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