segunda-feira, dezembro 04, 2006

novembro-escuro

Vestiu-se de novembro-escuro, a condizer com a baía, e foi até à praia, juntar-se aos poucos pescadores que, como ele, insistiam na prática de fim-de-semana, de há muitos anos para cá.
Invadia-o uma tristeza inexplicável. Olhava o mar e uma angústia doía-lhe no peito enquanto um nó na garganta parecia querer estrangulá-lo.
Trocaram breves palavras. Cada um mais taciturno que o outro, deixaram que o peso da atmosfera carregada os esmagasse. Os outros dois partiram, à procura do calor de um copo de vinho, na taberna à beira-mar.
Os olhos do pescador, claros por natureza, tornaram-se escuros e sem brilho, em perfeita empatia com a quase ausência de luz.

Triste pescador triste, nem lutou contra o desânimo que, pouco a pouco, se apoderou de si. Encheu os bolsos de calhaus rolados, abotoou o casaco de baixo acima e caminhou, mar dentro, como se por uma estrada que conhecesse de cor.
No areal deserto, a assinalar a sua passagem vestido de novembro-escuro naquele domingo negro, restou, esquecida, a cana-de-pesca.

7 comentários:

Maria disse...

Que texto-poema tão lindo! E que fotografias, Maria, tão lindas!
É de tanta beleza este post que me arrepiou...
É a minha sensibilidade pelo mar, pescadores, natureza, mar, mar, mar...
Obrigada Maria, beijoca

Ana Prado disse...

Que prazer é passar por cá. Gostei muito do texto. E por falar em harmonia, ele há harmonia maior do que esta entre o que escreveste e as fotografias que nos mostras?

Gostei muito, Maria.:)

Beijinhos

carteiro disse...

Concordo plenamente com a harmonia que a Ana referiu :)
Gosto muito das fotos.
Ao olhá-las, vejo que há fotos que perderiam o sentido ao serem tiradas de outro modo... eu, que tenho a mania de tirar as fotos na horizontal.

Anónimo disse...

Quando sair dos cuidados intensivos comento. eh eh eh! Tu sabes quem sou.

Anónimo disse...

A Vida é assim, feita de claros e de escuros, quiçá de cinzentos. Como eu presumo compreender-te bem. É muito belo o último quadro.
Este nunca o Zé o pintaria, naturalmente. A cana-de-pesca acabará mergulhando nas águas profundas. E aí repousará. Para refúgio de peixes pequenos. Que também são parte do Universo.

Anónimo disse...

Maria,

Belo, sem sombra de dúvida, mas muito deprimente. Hoje não estou para aqui virado. Talvez volte noutro dia.

Abraço luminoso.

Maria Carvalhosa disse...

Mais uma vez, meus amigos, agradeço as vossas visitas e os comentários deixados.

Beijos coloridos (só para fazer contra-vapor ao novembro-escuro dominante!...) e sorrisos cheios de ternura.