terça-feira, janeiro 16, 2007

Fragilidades


Fragilidade (1)

Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.

(Carlos Drummond de Andrade)




Fragilidade (2)

O teu rosto frágil,
a serenidade dos teus gestos,
a tranquilidade do lago azul dos teus olhos...

...e, no entanto meu amor,
que turbilhão de emoções rodopia no teu íntimo?

Pudesse eu penetrar, de alguma forma,
a matéria de que são feitas as tuas inquietudes e sobressaltos!...

Soubesse eu interpretar a subtileza dos teus sinais
esparsos,
contidos,
resguardados!...

(Maria Carvalhosa)

17 comentários:

Maria disse...

Apetecia-me que tivesses continuado a escrever...

Um beijo

MySelf disse...

Tão bonito...

Um beijinho

caminante disse...

He llegado aquí de la mano de Aquilaria. Me gustó tu comentario. Curioso, sin querer resistir a la tentacion, recorrí tu Blog. Amas el mar, se ve. Y el ocaso.
Rezuma sosiego, paz, serenidad... tu "cantinho". Te felicito.
Un fortísimo abrazo.

aquilária disse...

malhas que a minha distracção tece: o meu comentário ao texto "musicalla lilies" ficou na caixa de comentários do post "fim do dia...fim de ano" :(

voltarei, para reler o teu poema

miruii disse...

Que bela imagem a condizer com as palavras...
Lugar bonito para eu voltar.

vida de vidro disse...

A tua "fragilidade" não perde brilho ao pé do grande poeta que é Drummond de Andrade.
Gostei muito da tua sensibilidade poética. **

M. disse...

Gostei muito.

Unknown disse...

Este é um texto igual para vários blogues:

Cara Maria,

Por ter decidido criar a “Escola de Astrologia Nova-Lis”, mantendo ao mesmo tempo, a minha actividade de editor do “Anjo Dourado” necessito de TEMPO para me dedicar àquilo que mais gosto: os livros e a astrologia.

Por isso, decidi apagar o meu blogue “Postais da Novalis” no próximo dia 5 de Fevereiro. Não o faço mais cedo, porque nesse mesmo dia ainda farei o post colectivo da “Rede de Blogues Espirituais”.

Sou dos que entendem que, quando se desiste de um blogue, se deve apagá-lo completamente, para que não fique por aí a vaguear, criando energias paradas, que se vão transformando em restos energéticos negativos.

Como entendo que uma coisa leva à outra, também venho solicitar o favor de retirar este meu blogue da sua lista de linques, de modo a que o seu sítio fique energeticamente limpo e bem arejado.

Agradecido por este tempo de convívio,

António Rosa

Maria Carvalhosa disse...

Amiga Maria,
Às vezes também me acontece isso em relação a posts teus ou de outros amigos que visito... não é por acaso. Há tanto que nos liga!
Beijo.

Querida Myself,
És sempre tão terna e benevolente nos comentários aos meus escritos.
Obrigada por me dares a saber que, pelo menos tu, te identificas desta forma tão "gémea" com o que escrevo.
Beijo muito, muito amigo.

Caminante,
que bom que os trilhos blogoesféricos te trouxeram até mim. É normalmente assim, a partir de amigos comuns, com quem partilhamos emoções, sentimentos e opções estéticas, que os nossos caminhos se vão cruzando com os de outros caminhantes com quem passamos, igualmente, a partilhar cumplicidades.
Grande abraço.

Querida Aquilária,
"despistada" como todos os seres que vivem um pouco a meio caminho entre o telúrico e o espiritual. És linda, amiga!
Beijo.

Miruii,
Obrigada pela visita e pelo agradável comentário. Vou espreitar o teu espaço de seguida, pois é claro.
Um abraço e até breve.

Maria Carvalhosa disse...

Vida de Vidro,

É curioso que tenhas abordado o facto de eu me ter "colado" ao Carlos Drummond de Andrade, mas fizeste-o de uma forma tão simpática, lisongeira mesmo!

Na realidade, devo confessar-te que hesitei em "desenhar" o post desta forma, precisamente por receio de que pudesse parecer pretensiosismo da minha parte: um "poeminha mixuruca meu..." aparentemete a querer pôr-se em bicos de pés para chegar aos calcanhares do Carlos Drummond de Andrade... tu entendeste-me e isso foi muito gratificante para mim.

É claro que não há comparações possíveis entre o incomparável, nem era isso que se pretendia. Aconteceu, muito simplesmente, que a "fragilidade" desse grande poeta me inspirou e deu força a expor a minha grande fragilidade do momento.

Um beijo sentido.

Maria Carvalhosa disse...

Fotoescrita,
Obrigada. Até breve.

Caro António,
Vou sentir saudades dos teus postais mas, profundamente, desejo as maiores felicidades para o teu novo projecto pelo qual nos abandonas (estou a brincar, sei que vais continuar a visitar-nos).

Um beijo e um abraço bem apertado.

Manuel Nunes disse...

Maria:

Gostei do teu poema. Falamos de poesia e da expressão de estados de alma por natureza indizíveis. Daí que o verso possa ser "apenas um arabesco em torno do elemento essencial - inatingível", como diz Drummond de Andrade. No fundo, trata-se da "fragilidade" das palavras na explicação das coisas (e dos sentimentos, digo eu).

Venham mais destes poemas!

Um forte abraço,

P.S. Agradeço-te o interesse com que seguiste os três actos de prosa
da minha última "escrevência". Fico satisfeito por teres gostado.

jorge esteves disse...

Não escrever uma palavra que seja sobre Drummond de Andrade não é menos apreço pelas laçadas da sua escrita; é que, por prioridade, aqui me prende mais a limpidez do poema abaixo; que deixa claros sinais de bem saber interpretar a subtiliza dos sinais...
Claro que volto!
Afectuosamente

p.s. - grato pela visita e pelos exagerados elogios!

Ana Prado disse...

Maria, venho apenas dizer que é por falta de tempo a minha ausência. Continuo deste lado, em silêncio, é certo, mas aqui.

Hoje vim só deixar o abraço. Guardo as palavras para outra visita.

aquilária disse...

voltei, reli. percebo o que te inspirou, no poema do drummond de andrade.
falas, cristalinamente, de uma viagem à flor da pele e de um desejo de mergulho no "essencial e inatingível" desses "sinais resguardados".

abraço grande

Anónimo disse...

Quanta fragilidade, Maria!
Começas a deixar-me inquieto. O texto é muito bonito mas sinto que estás a sofrer. Não quero isso para ti, tu sabes.

Beijos, muitos.

Francisco

Anónimo disse...

Fiquei rendido à espontaneidade e delicadeza das tua poesia ...