terça-feira, abril 10, 2007

A quarta Arte

"Les Trois Arts" - óleo sobre tela de Júlia Calçada

Meus amigos,
Quero deixar-vos aqui um duplo convite: em primeiro lugar, que não deixem de visitar o blog jc, onde encontrarão uma série de pinturas magníficas dedicada por esta autora à arte do bailado; de seguida, e porque através deste seu quadro estamos perante três artes, lanço aqui um repto para que, inspirados numa, ou no conjunto das obras, dêem largas à vossa expressão artística por excelência, a escrita e, desta forma, contemplem aquela que, apenas por surgir sequencialmente às que a pintora nos enuncia, designo de quarta arte.
Como é natural, não resisto a responder, de imediato, ao desafio que acabo de lançar. Se tiverem curiosidade, vejam o post abaixo, "The Show is Over".
Ansiosa por ler os vossos escritos, digo-vos "até logo" com um grande abraço.

36 comentários:

Anónimo disse...

bom dia, maria. foi muito amável em ter-me convidado para este seu desafio. deixo ficar um texto que um dia dediquei a uma bailarina:



o teu corpo grita. cada osso um homem que te amou. arqueias os pés e foge o ar da boca. quase mata. um velório. eis o que retratas. os teus ombros no chão. a cidade a ver tudo. olha. a música entoa os teus passos. ouve o eco. os ossos. os homens. salta. tens a morte nos braços e não podes. a cidade escuta. tantos vermes. o teu pescoço uma estrada. quase uma rainha. quase nada. e as tuas mãos que não param. o ar que não mata. só foge. o homem que não ama. o ego que não cai. o teu pescoço é o caminho dos vermes em cima do palco. enquanto a música te sacode as ancas, a cidade vê borboletas e bate palmas. a voz que salteia os passos. quase rei. quase fada. e um beijo na boca. no homem que não ama. cai o eco. fica o teu retrato.



um grande beijinho para si, maria.

mais uma vez, obrigada.

M. disse...

Aqui vai, Maria. Espero que gostes.

Desejo em Cor Sépia

Tocam-se os gestos ao de leve, tão belos nesse desejo tímido de permanecerem unidos para lá dos silêncios.
M


Foi um prazer responder ao me pediste.
Um beijo.

Ana Prado disse...

Pergunta tola: pode-se optar por qualquer quadro ou terá de ser este que nos propões?
Ah, e não sei se só funciona por convite... achas que me posso arriscar??

Beijito

Ana Prado disse...

Maria, a pergunta não era tola, era estúida mesmo:) Reli o post do desafio e estou esclarecida:)

aquilária disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Prado disse...

Como não me "servi" deste quadro, deixei o meu contributo lá em casa:) Inteira Luz, agora.
Beijinho

Maria Carvalhosa disse...

Querida Ana,

Já fui ler o teu poema que complementa, em jeito de "legenda" a "Pause #2" da Júlia.

É sublime o momento em que perfeição rima com perfeição.

Beijos.

aquilária disse...

vim cá, curiosa, dar uma espreitadela nos escritos publicados e percebi que faz todo o sentido, o que a ana prado fez: publicar no seu próprio blog foto e texto, com os respectivos links.
tratarei disso ainda hoje,logo que possível.

beijo

Maria Carvalhosa disse...

Sim, Aquilária, era essa a minha ideia quando lancei o convite.

Obrigada.

Beijos.

Maria disse...

maria

Aqui vai, feito em completo silêncio e olhando apenas o quadro...

O Vôo

Ao som das primeiras notas
vindas do piano
a bailarina levantou-se
colocou as asas nos pés e,
saindo da tela, voou para
o infinito.
Era lá que tinha encontro marcado
com o Amor...


Obrigada pela convite.

Beijo ternurento

Maria disse...

maria

... eu não sei fazer os links...
mas vou referir o teu convite...

Beijos

Licínia Quitério disse...

Não entendi onde querias o texto.
Mandei-to por mail.
Agora ponho-o aqui.


"Só podia ser a sépia, respondia. O que a pintora queria mesmo é que fosse um quadro branco que desse a ler o cansaço. Tentou, mas sem êxito. Não encontrou leitor. Só a tal bailarina o entenderia. A tal, a que dançou voando sobre os sons que recusavam o silêncio. Talvez tenha tocado em pontas o chão sublime de sons inaudíveis. Quanto tempo dançou? Dizia: Sempre. Como quem assina o próprio nome. Não podia parar o diálogo com o pianista, o que conhecera tocando uma melodia que nunca ouvira. Construída de lamentos de ervas pisadas e de risos de malmequeres ao sol. A música tecia-lhe as vestes e o piano tocava sozinho se as mãos dele vinham guiar-lhe a cintura. Quando a música parou e as mãos se esfumaram, um cansaço branco, muito branco, a envolveu. Deitou-se sobre o piano, o cetim das sapatilhas no teclado a desenhar um acorde extravagante. Ela entenderia a brancura do quadro. Mais ninguém."

Muito obrigada pelos desafios.

Um beijo.

Maria P. disse...

Maria eu vou fazer o texto no meu blog e indicar o teu como referência, achei um desafio muito interessante.

Muito obrigada pelo convite.

Beijinho.

aquilária disse...

pronto, já está tudo na ínsua, e tomei a liberdade de apagar o meu texto da caixa de comentários.

um beijo, com afecto

Amita disse...

Bom dia Maria

Ontem passei por aqui num curto instante e durante todo o meu dia de trabalho "dançou-me" a beleza do quadro.
Estou muito grata pelo momento que me proporcionou e aqui lhe deixo o meu sentir.

Assim nos quedamos
no breve relaxamento dos anos
nas horas passadas em pontas
que teus dedos em branco e negro
o meu cetim afagaram

Cúmplices segredos
na postura do silêncio
dos rituais em leves traços
e dos sussurros, os embalos


Voltarei com mais tempo.
Um bjinho e uma flor

António Melenas disse...

Esta é a minha interpretação do quadro da bailarina Com as sapatilhas ao ombro do post anterior:

Sapatilhas ao ombro e ar cansado
Deixa o palco a jovem bailarina
Lá dentro foi a estrela do bailado
Cá fora, é simplesmente uma menina

Apagada a luz dos projectores
E extinto o clamor da ovação
Ali vai ela entregue aos seus temores
Imersa em profunda solidão

E chegada que foi ao camarim,
Beijando as sapatilhas, chora a menina,
São velhas chegaram hoje ao fim

E sendo agora, a sério, bailarina
Sabe que o seu estatuto determina
Ter novas sapatilhas de cetim

A.Melenas

vida de vidro disse...

Maria, agradeço do coração o teu convite. Usei a foto "O espectáculo continua" e vou agora publicar o texto lá no Vida de vidro. Espero ter estado à altura do teu convite e da arte da Júlia. **

Luís disse...

Fiz o melhor que pude... mas usei outra pintura =)

(Confesso que não sou grande fã de ballet)

jorge esteves disse...

(...)dançou abraçada às notas do velho piano que tocava um trecho de Strauss; depois, o Tempo esqueceu-se, o som envelheceu a cor, mas o silêncio teimava em guardar aquele bailado (...)

Abraços!

Maria disse...

Amiga da nossa terra

Achei esta experiência interessantíssima. Obrigada por me teres convidado a participar.
É giro ver como as mesmas telas têm leituras tão diferentes....

Beijinhos

jorge esteves disse...

(Mil perdões!, esqueci-me de Alenquer...
Pois é que foi por lá, há muitos e longos anos que, nos jardins, cafés ou nos bailes nos Bombeiros, derramei ingénuos amores e achei coloridas amizades; eram tempos da base da Ota, uma espera das lonjuras africanas. Nunca mais consegui lá voltar sem desassossegos...)

Nilson Barcelli disse...

Vim aqui por causa de um dos teus convites, pois li noutro blogue um texto relacionado com a dança e com uma referência a esse mesmo convite.
E ainda bem que o fiz, já que, pelo que li, tens um blogue que vale a pena ler.
Voltarei.

Isabel disse...

Que desafio interessante.
Que blog maravilhoso este teu.
Vi no teu perfil que temos muito em comum, os autores que se leem dizem muito sobre as pessoas... gosto muito de todos os que mencionas mas tenho uma coisa especial com Marguerite Duras, toca-me profundamente.
Gostava de escrever sobre sobre este esta obra. Posso?
Embora não tenha sido convidada.
Acho que todas as formas de arte estão ligadas por fios umas vezes mais visiveis que outros mas a ligação está sempre lá.
Diz-me se puder escrever... pois apesar da falta de tempo sou uma eterna amante das palavras...

Um beijinho

Isabel

PS: vou ver as outras pinturas

Maria Carvalhosa disse...

Olá Isabel,

Não só podes como deves escrever. Apenas não te convidei de forma personalizada porque ainda não te conhecia. Vou tratar de colmatar, de imediato, essa falha e visitar o teu espaço. De qualquer forma, o convite é dirigido a todos os que o quiserem aceitar. Como imaginas, o meu círculo de conhecimentos na blogoesfera é muito reduzido, relativamente ao universo que representa.
Acho muito interessante o que dizes sobre os nossos gostos comuns em matéria de leitura e, esse facto, aguça ainda mais a minha curiosiade.

Até breve e obrigada. O teu mail encheu-me de alegria.

Um beijinho.

Anónimo disse...

Olá.
Conseguiste que finalmente eu me rendesse à blogosfera e criasse o meu cantinho. Comecei por aceitar o teu desafio.A minha perspectiva é única e intrasmissível, mas não resisti a participar com a minha pouco literária e pouco ortodoxa forma de escrever. Conto com os teus comentários par me meteres na linha quando escrever mal como de costume.

Um beijão.

AJCR

Anónimo disse...

Olha tinha esquecido de deixar o meu endereço.
Coisas de ser novato na blogosfera. Agora o nome já tem link, penso eu.

Outro Beijão

AJCR

Anónimo disse...

Meus amigos, obrigada!
É para mim muito difícil expressar-me através das palavras, mas não podia deixar de o fazer. Talvez por isso tentei arranjar uma forma silenciosa para comunicar. Hoje vejo, que com a ajuda da Maria e de todos os amigos, as minhas telas têm “voz”. Falam, e fazem-no da forma mais bela que poderia esperar. Cada uma delas transmite também o sentimento de cada um de vós.
Bem hajam.
Um abraço.

Maria Carvalhosa disse...

Amigos,

Chegou a minha vez de vos agradecer a enorme adesão e o entusiasmo com que aceitaram o convite e escreveram, aqui, ou nos vossos próprios blogues, textos contidos, belos, expressivos, fantásticos, dos mais diversos modos, de acordo com a peculiaridade que caracteriza a escrita de cada um. Sinto-me realizada e feliz porque o meu objectivo foi amplamente atingido.
À Júlia agradeço a maravilhosa matéria-prima sem a qual não teria sido possível este jogo de expressão escrita em torno de um tema por si desenvolvido.
Como sabes, Júlia, sou tua fã incondicional desde que descobriste que gostavas de pintar, mas é gratificante verificar que muitos dos meus melhores amigos da escrita, aqueles que, aqui neste pequeno-grande universo mais admiro, também te apreciaram (e muito!) a ponto de se predisporem a escrever sobre o que pintaste e a avaliar pelo resultado do que produziram.

Pessoalmente, sinto: Missão cumprida (por agora!). Parafraseando o que alguns de vós disseram, em comentário, é formidável esta interpenetração das artes, que permite a constatação de que a multidisciplinaridade traz sempre benefícios acrescidos, quer ao nível da satisfação individual quer da colectiva...

Nós vamos continuar a escrever, alguns igualmente a fotografar. A Júlia vai continuar a pintar. Cada vez mais e melhor, estou segura!

Sinceramente comovida e grata, deixo beijos e abraços para todos.

M. disse...

Maria, foi um gosto. :-)
E como agradecer-te eu as palavras tão afectuosas que me deixaste no Palavra Puxa Palavra?
Um beijo.

Fátima Santos disse...

Maria
O texto que tenho no repensando é, a meu modo, uma contribuição.
Boa tarde!

Viajante disse...

Fiz direitinho :)
escolhi imagem e divaguei. Beijos,

V.A.

Anónimo disse...

A minha missão ali era incrível, eu que não gosto de bailado estava na esperança que o espectáculo acabasse rápido.

Porque estava eu sentado naquela cadeira de almofada rota do tempo, de olhar de quem nada tem a ver com aquilo que se passa no palco, a bailarina que por várias vezes se chegava á frente numa suavidade que me fazia lembrar as andorinhas era quem eu procurava.

Uma vez acabado o bailado esperei por ela junto da porta por onde os artistas passam, ela surgiu, eu entreguei o envelope que o meu amigo já de viagem para Roma me pediu que o fizesse, reparei que ao ler a bailarina deixou cair umas quantas lágrimas, servindo-se de uma caneta escreveu algo no papel e devolveu-mo.

Fiquei com o manuscrito na mão enquanto a bailarina entrava no automóvel, um descapotável que arrancou a toda a velocidade, com curiosidade olhei o papel e reparei que o que estava escrito era:

O pensamento...
De que tu estás em qualquer lado...
E de que pensas em mim ás vezes...
Ajuda-me a viver...

Ela acrescentou: Eu também.

A.S. disse...

Segui as pistas que deixaste e apenas me ocorre uma palavra... Sublime!...


Bjosss

Anónimo disse...

Olá Maria,

Lindo texto, como é hábito. Continuas, no entanto, com tendência para ficcionar pelo lado negativo da vida. Mentira?

Beijinhos.

P.S. As pinturas da Júlia Calçada são um espectáculo!

Nilson Barcelli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Carvalhosa disse...

Obrigada pela contribuição, nilson.
Decidiste eleger como protagonista do teu poema o pianista em vez da bailarina. Muito interessante e original.

P.S. Eu já te tinha "linkado" sem pedir autorização... (oops!), apenas porque visitei o teu blogue e gostei muito do que lá vi. Não posso senão agradecer-te o facto de também o teres feito em relação ao meu - coincidência?...) :)

Um beijo.