terça-feira, agosto 16, 2011

Berlenga - reserva natural da Biosfera



As Berlengas vistas da Varanda de Pilatos (Cabo Carvoeiro) - foto de António Rodrigues

Amigos,
Passo a transcrever o texto que submeti ao desafio lançado pelo Presidente da Câmara de Peniche, em colaboração com a administração da Comunidade "Descobrir Portugal", que foi distinguido com uma Menção Honrosa. Esta distinção traduziu-se, além do mais, numa visita às Berlengas a bordo da Caravela "Vera Cruz" , no dia 17 de Julho de 2011, acto que assinalou a merecida classificação do Arquipélago das Berlengas como RESERVA MUNDIAL DA BIOSFERA.


Agora que as Berlengas tinham sido classificadas pela UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera, Joana, estudante de biologia marinha, não tinha como recusar o convite de Tiago para com ele ir, pela primeira vez, visitar aquele arquipélago de que sempre ouvira falar como um dos tesouros naturais de Portugal, não só em termos de beleza paisagística como de riqueza em biodiversidade.

Ainda no cais de Peniche, antes de embarcar, não conseguia evitar que as pernas lhe tremessem. Disfarçava como podia, tentava aparentar uma calma que estava muito longe de sentir. Sempre ouvira dizer que a travessia para as Berlengas era uma temerosa aventura e, de destemida, Joana nada tinha.

Na longa fila, pendurada no braço de Tiago enquanto esperava pela ordem de embarque, roía as unhas da mão que tinha disponível e, em silêncio, tentava rezar um Pai-Nosso, embora tivesse a certeza de que não estava a ser capaz de dizer a oração tal como a tinha aprendido.

Por fim a fila começou a mover-se em direcção ao barco. Alguns rapazes e raparigas, já lá dentro, soltavam gritos de euforia. Ela aconchegava-se mais e mais a Tiago enquanto caminhava, como se para o cadafalso se dirigisse.

Quando entraram pediu, com voz quase inaudível: "vamos lá para dentro, está bem?" O namorado sorriu, acariciou-lhe o cabelo e anuiu, embora tivesse preferido viajar na parte exterior, para sentir o vento e alguns salpicos de água salgada no rosto.  

Até ao Cabo Carvoeiro a embarcação parecia deslizar num rio, ou num lago, sem sobressaltos, e ela começou a relaxar um pouco. À passagem do Cabo, um grupo de pessoas no terraço da "Nau dos Corvos" acenava, alegremente, para os passageiros a bordo. Foi nesse momento que  o barco pareceu afundar-se a pique, para imediatamente voltar à tona, numa onda que lhe pareceu gigantesca e Joana sentiu o estômago aproximar-se perigosamente da garganta.
O episódio repetiu-se algumas vezes e Joana optou por manter os olhos fechados, embora essa táctica parecesse não resultar tão bem quanto desejaria.

Pouco tempo depois, Tiago murmurava-lhe ao ouvido "abre os olhos Joaninha, o espectáculo é admirável". Com relutância obedeceu e foi então que o medo, a má disposição de há segundos atrás, deram lugar a um olhar extasiado perante o cenário natural que tinha na sua frente: a ilha rosa, em todo o seu esplendor, rodeada de águas inimaginavelmente verdes e transparentes, parecia chamá-la. A atracção imediata fez com que nem desse pelos dez ou cinco minutos até à entrada no cais da Berlenga.  

Foi com desenvoltura que desembarcou, ansiosa por pisar aquele solo com o qual pressentia uma tão forte afinidade. Ignorou a mão que Tiago lhe estendia e saltou para terra com um genuíno sorriso nos lábios e um brilho ímpar nos olhos azuis. O rapaz fingiu-se ofendido e comentou, em tom de resmungo "pois, agora já não queres saber de mim!". Voltou-se para ele, soltando uma sonora gargalhada, beijou-o com paixão e segredou-lhe "obrigada, meu amor, por me teres trazido ao paraíso. Agora, vamos já, já, para a praia, que estou mortinha por mergulhar naquelas águas límpidas!".

O dia passou a correr. O jovem casal fruiu, intensamente, todas as maravilhas que a ilha tem para oferecer a quem a visita. Subiram até ao alto, de onde se desfruta uma vista de fazer suster a respiração. Sentaram-se a observar, deliciados, o voo planado das muitas gaivotas que povoam a ilha, e outras aves, como as pardelas e os corvos marinhos, que com elas coabitam. Desceram, sempre de mãos entrelaçadas e com risadas alegres, até ao Forte de S. João Baptista, que percorreram  de uma ponta à outra e, por fim, no cais da fortaleza, apanharam uma pequena lancha que os levou a visitar as grutas - cada uma mais fascinante e misteriosa que a anterior.  

Quando entraram no barco, para o regresso a Peniche, foi uma Joana extenuada mas intensamente feliz que pediu a Tiago, com doçura, "querido, trazes-me cá novamente no próximo fim-de-semana? Por favor!" 


12 de Julho de 2011

3 comentários:

Maria disse...

Como disse na altura, o Tiago continuou a ir à ilha. A mulher nem tanto, já que os três filhos do casal vieram em 'escadinha'.
Um dia destes lembra-me para te contar a estória...

Beijo, Maria Carvalhosa.

Graça Pires disse...

Fico contente com a distinção.
Um beijo, amiga.

Mel de Carvalho disse...

Amiga, entre a ilha que amamos e a lezíria que nos acolhe o ano todo, preparo o abraço, que a cada letra tua, me parece mais merecido e eu, menor, para to dar :)

beijo Maria
está breve ...