sábado, maio 28, 2016

O Planeta Verde



Este texto foi escrito, e publicado na minha página do Facebook, no dia 13 de Janeiro de 2014. Na altura não o partilhei neste espaço porque, por razões que eu própria desconheço, tinha este meu blogue inactivo. Senti, agora, chegado o momento de o adicionar a todos os outros textos que aqui tenho divulgado.

O PLANETA VERDE
Meu querido Papá,
Hoje é o 7º dia após o seu falecimento e, talvez também por isso, esta noite lembrei-me de mais uma das muitas coisas que ao longo das nossas vidas tivemos em comum. Sim, ambos gostámos sempre muito de dormir e isso talvez porque, para ambos, dormir significa sonhar. E nós sempre tivemos a ventura de ter sonhos lindos, maravilhosos, fantásticos e, em sequência, sempre nos deu imenso prazer partilhá-los. Claro que também sonhamos acordados mas, neste caso, reporto-me especificamente aos sonhos ocorridos durante o sono.
Lembro-me, claramente, da primeira vez em que nos falou de um sonho fabuloso, talvez o mais extraordinário que alguma vez havia tido. Eu e os meus irmãos, ainda crianças, ouvíamos, extasiados, à volta da mesa do almoço, os prodígios, até ali inimagináveis, que o Papá nos contava sobre um incrível Planeta Verde, repleto de formosuras e encantos só comparáveis, para nós, aos dos contos de fadas.
Fui sabendo, no decurso do tempo, que as suas visitas nocturnas a este planeta se tornaram recorrentes, e que este era um dos locais preferidos de devaneio do seu inconsciente, enquanto dormia.
De tal forma se tornou um hábito, que fui crescendo com a nítida certeza de que, pelo menos para si, e para mim, por simpatia, este planeta existia mesmo. Confesso que, sem qualquer ponta de ciúme, cheguei a imaginar que nele tinha constituído uma segunda família, em quase tudo semelhante à nossa, com a diferença de que mais feliz, porque lá, no Planeta Verde, seria tudo mais perfeito: sem poluição, sem guerras, sem desigualdades sociais, sem mesquinhez, porque um planeta exemplar só poderia ser assim. Sei que o Papá, por mais de uma vez, chegou a dizer-nos "Gostava tanto de vos levar lá!".
Mais tarde, após ter lido "A Utopia", de Thomas More, recordo-me de ter pensado que o seu Planeta Verde conseguia ser ainda mais irrepreensível do que a ilha do escritor inglês, porquanto nessa existia escravatura, o que não sucedia no seu lugar de eleição.
Hoje, exactamente uma semana após a sua partida, gosto de pensar que, por fim, conseguiu viajar irreversivelmente para o seu Planeta Verde, e que não precisa mais de acordar como um comum terráqueo, neste Planeta a que, orgulhosamente, nos habituámos a chamar azul, apesar de tanto o maltratarmos. Sinto, igualmente, uma alegria ímpar quando penso que, um dia, quem sabe, poderá ser que me junte a si nesse planeta de sonho, quando o sono final sobre mim também se abater e a nossa cumplicidade onírica, enfim, se cumprir.
Aproveite bem, enquanto eu não chegar, meu querido Pai.
Depois, quando eu também já for habitante desse lugar de belezas únicas, desfrutá-lo-emos juntos. Que contentamento há-de ser o nosso, tenho a certeza!
Até lá... com muito, muito, muito Amor!
Fami
P.S: Seja quanto tempo for, vai passar num instante, face à eternidade que teremos, para nele podermos viver intensamente a felicidade!

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