Senti saudades do que os olhos vêem, do cheiro a figos e a uvas e a ervas, da total ausência de vento ao crepúsculo, do sentimento de pertença que começa na infância e só termina não se sabe quando.
Senti saudades do Suão, que sopra do mediterrâneo nas noites do Sotavento, e das múltiplas estrelas cadentes que se podem contar nos breves instantes em que nos deitamos a olhar o céu, no areal imenso... das ondas grandes e matreiras do "Levante", que, sendo inofensivas, assustam os forasteiros.
Senti saudades da adolescente que fui, romântica, enamorada e tonta, naquele lugar. Da jovem mãe que, no mesmo sítio, ensinou os filhos a amar o vento quente, a água salgada e morna (tão doce), a cor (do mar, do céu, do campo até às dunas), o cheiro telúrico, meridional, (até mesmo a inexistência da fresca brisa atlântica...).
Senti saudades... e estou mais feliz por isso...
Obrigada, Ana Prado!
16 comentários:
"A partir de hoje, uma parte de mim deixa de me pertencer em exclusivo." Belos escritos, muita sensibilidade à flor da pele. Existe um romantismo que não é piegas, que é lirico e este é o seu caso. Parabéns pelo texto. Phylos.
A CONQUISTA DE CACELA
As praças-fortes foram conquistadas
Por seu poder e foram sitiadas
As cidades do mar pela riqueza.
Porém Cacela
Foi desejada só pela beleza.
SOPHIA DE MELLO BREYNER
Por este mundo, que muitos rotulam de virtual sem o conhecer (e quem o conhece?), é-nos, por vezes, tão fácil achar coisas que nos inspirem e que nos façam lembar de... nós.
E não é que ela anda por estes lados!... Daqui a Lagos é um pulo por mar… Tu sabes, eu sei que sabes, à vela num, de 12 metros, são 10 horas de navegação. (acho que estou a ficar melhor da minha amnésia) Mas é mais seguro do que fazer a 125.
Beijitos, tenho que ir. Acho que estou a receber um e-mail de alguém…
Maria,
fico comovida com este gesto, com essa sensibilidade, com esse lugar. Estou muito perto de Cacela. De vez em quando vou até lá olhar o azul. Funciona como catarse.
Percebi a tua ligação a este lugar, com um comentário que deixaste no Luz Fugaz. Percebo agora que é muito maior do que imaginei. Muito maior do que a minha, que é recente e aconteceu por acaso. Vim trabalhar para estes lados e encantei-me.
Fico sobretudo feliz por, de alguma forma, ter provocado este teu texto. Fico-te desmedidamente agradecida pela consideração e carinho.
Um abraço grande. De Azul.
É bom termos saudades da nossa infância / adolescência / juventude e dos cheiros que nos ficaram na memória. e das vivências que tivemos. E das avós que nos contavem estórias...
Mas, Maria, também é bom termos saudades do futuro... que está já aí...
Uma beijoca
Que nostalgia agora, recordar a Cacela Velha da minha meninice...será da idade ou desta quadra, em que volto sempre à minha infância?
Deixo um abraço de "menina que vagueou nessa praia"...
Maria:
Agradeço os benévolos comentários deixados no meu blogue e também a dica sobre a obra do Prof. Mariano Calado.
Como deves ter percebido pela citação que fiz de Sophia, gostei deste teu apontamento carregado de memória e romantismo.
Um abraço,
Manuel Nunes
Sentir saudades é sempre algo que me deixa feliz. Doces versos que me transportaram a essa terra distante. E uma linda dedicatória. Tão merecida.
De uma maneira ou de outra, todos temos boas recordações de Cacela e o desejo de lá voltar. Mesmo assim, modificada: "Quem poderá domar os cavalos do vento". De regresso ao futuro, naturalmente.
"O mar que une, o mar que aparta"
Acabaremos sempre por lá ir. Sempre.
(Nem que fosse pelas ameijoas, obviamente!)
Maria querida,
É bem verdade que esse sítio é mágico e toda a gente, pelo menos uma vez na vida, passou por lá e não esquece mais.
Tu tiveste a sorte de o ter para ti muitas e muitas vezes. Quem foi que disse que não és uma mulher afortunada?
Beijos.
Como um texto escrito com alma num momento de grande exaltação emocional nos pode tocar!
Aconteceu exacatamente o mesmo comigo. Veio-me a saudade, a vontade de falar de coisas e de recordações de que muito raramente falo.
Foi assim que também deixei, antes mesmo de vir a este sítio, um comentário no mesmo post da Ana.
Deste mesmo jeito, escrito também com o coração na ponta dos dedos a baterem nas teclas do computador.
Gostei de a conhecer, Maria.
Vou voltar...
António
é bom sentir essas saudades , sem nos agarrarmos demasiado ao passado.
Um abraço
Vim aqui desejar umas festas felizes, sobretudo que seja um fantástico ano de 2007.
Abraço.
António
Beijos e abraços a todos os que por aqui passaram. Um sorriso especial aos que expressaram sentimentos de cumplicidade (pelo local ou pelo estado de espírito).
Querida Maria:
Em tempos de Solstício, que a Sua Luz Única te Guie para a felicidade, cujo caminho vejo no Natal.
Beijinho.
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