segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Pablo Neruda


Neruda - José Juan Torres (clicar para aceder ao link em que se ouve a excelente declamação de J.J. Torres)

Este post é dedicado à minha filha Sara, que faz hoje 25 anos e que, durante a sua infância, muitas vezes me ouviu "dizer" este poema. Também o dedico ao meu pai, que fez 78 anos no dia 31 de Janeiro e que, porque gostava de me ouvir "dizê-lo", tem-no gravado num dos seus álbuns de recordações áudio.

Parabéns a ambos, com todo o meu amor.


"Posso escrever os versos mais tristes esta noite "
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam,
azuis, os astros lá ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.

Em noites como esta tive-a eu nos meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não a tenho.
Sentir que a perdi já.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo.

Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Como para chegá-la a mim, o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive nos meus braços, a minha alma não se contenta com havê-la perdido.

Embora esta seja a última dor que me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda in "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"

14 comentários:

Graça Pires disse...

Maria, parabéns à tua filha Sara pelos seus 25 anos e ao teu pai.
Este poema de Neruda traz de facto tantas recordações...
Um beijo.

Maria disse...

Obrigada por pores aqui Pablo Neruda, num dos seus poemas Grandes.
Parabéns à tua filha e ao teu pai, e que continues por muito tempo ainda a declamares Neruda para eles....

Beijos

Espaços abertos.. disse...

Muitos parabénsá filhota e eoo seu pai,este poema eleva toda a ternura e m carinho muito especial que nutres pela tua família,excelente.
Bjs Zita

Anónimo disse...

Muitos parabéns, embora venha já um pouco atrasado.
O poema tem, como todos os poemas de Neruda, sabores a rasgões na alma.
Beijo

carteiro disse...

Estas palavras são... absolutas!
Os meus parabéns aos aniversariantes.
Um beijinho.

Rosa dos Ventos disse...

Obrigada pelo poema.
Parabéns à Sara e ao avô!

Abraço

Anónimo disse...

Obrigada por este presente mamita, que surpresa!
Adorei, adoro e adorarei este poema.

Parabéns Vô!

Beijo grande grande, com todo o meu amor,

Sara, a filha

MySelf disse...

Gostei de passar por aqui e sentir tanta ternura na tua familia.
Muitos Parabens atrasados e adorei a tua escolha do poema e autor, é dos meus preferidos.
Amiga, vai-me visitar, brevemente estou de volta...

Um grande beijinho

Anónimo disse...

uma filha de 25 anos? :) muitos parabéns. isso sim é poesia da mais bonita. beijinho grande, maria

jorge esteves disse...

Neruda é (sempre) uma bela dedicatória!...

abraços!

addiragram disse...

Parabéns aos três! A beleza deste poema é eterna.

nOgS disse...

Lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo... lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo, lindo...

...Absolutamente lindo este poema. É um dos meus favoritos do Neruda.

Beijos doces

firmina12 disse...

gosto deste poema na voz da chavela vargas

tulipa disse...

OLÁ MARIA

Sou a «Tulipa» que nos conhecemos no outro sábado, no almoço em Leiria.
Apenas «hoje» consegui vir dar uma espreitadela aos seus blogs.
Quero-lhe dizer que também eu adoro Pablo Neruda.

Beijinhos.