Sou rio.
Broto da escarpa rochosa:
ténue fiozinho de água
deslizando pela encosta,
molhando fragas e arbustos
até alcançar o vale
na procura de um riacho.
Irmãos-de-água fundidos
corremos alegremente,
na inocência da infância,
cantando e rumorejando
por sobre as pedras do leito
que nos indica o caminho.
Engrossei o meu caudal,
já tenho curvas e praias.
Rápidos alucinantes,
num rodopio de volúpia,
precipitam-me na queda
em vertiginosa cascata,
numa lagoa serena.
É dali que parto, eufórico,
enriquecido pelas águas
de outros rios solitários
que comigo se reúnem
e num só se consolidam:
imenso, forte, profundo.
Em desassossego e exaltação
o mar agora procuro
para nele, em largo manto,
consumar o meu destino:
confundir os nossos fluidos,
acertar nossas marés.
Sou rio.
(De costas voltadas
para a porta
pressinto a tua chegada:
aproximação doce e suave
que me faz estremecer
em prazer antecipado.
Enlaças-me pela cintura,
teu rosto encostado ao meu cabelo.
Um murmúrio terno e quente
me roça ao de leve o ouvido.
Lábios macios e ardentes
beijam-me a nuca, ansiosa.
Rio que sou, a ti me entrego:
Estuário vigoroso, excessivo, apressado
que o teu mar acolhe em festa.
Sorrio.)
16 comentários:
Gosto sobretudo da 2ª parte, a que está em itálico. O poema ganharia muito em ser dividido em dois.
Eu poesia não sei fazer, mas olhe que gosto muito desta.
Lá no meu blog pode encontrar outras coisas, muito mais modestas, mas a senhora será bem recebida.
Muito obrigada.
A felicidade pode ser contagiante...??? ..a doçura da poeisa, sim!
Bjinho
bonito poema. gostei de a visitar após uma longa ausência. um beijo.
Isto é paixão!!!!
Que bom, Maria da terra da minha Ilha! estou feliz por ti...
Beijos
(um abraço a quem te põe assim, em estado líquido...)
:)))
Um poema a dois tempos. Excelente Maria. Um beijo.
ainda é possível... surpreendeste-me.
ainda mais além da métrica ou da técnica reconhecem-se... sentires familiares.
Ol� Perdido,
Agrade�o o teu coment�rio e a sugest�o mas, de facto, prefiro o texto como est�. Assim ficar�. Por favor, sente-te sempre � vontade para criticar e sugerir, � imagem do que aqui fizeste. Fico-te grata por te dares ao trabalho de comentar, criticar, opinar sobre os meus arremedos de escrita.
Beijos.
Ol� Dona Tela,
Agrade�o o seu simp�tico coment�rio ao meu modesto texto, bem como o convite para visitar o seu espa�o. F�-lo-ei com muito prazer.
Um beijnho.
Querida Bettips,
Dizes-me sempre coisas tão bonitas... e és tão doce para mim.
Sinto que não o mereço, sobretudo porque estou muito em falta para contigo, por ausência de visita e comentários ao teu espaço (de que tanto gosto) e porque também não te tenho dado notícias de outra forma. Vou arranjar tempo. Tem que ser, sob pena de estar a ser injusta e mal-educada para alguém de quem tanto gosto: a minha querida B.
Beijos grandes, afectuosos, repletos de saudades e carinho.
Obrigada pelo comentário, Alice, minha querida. Também eu tenho andado muito ausente e vou ter que descobrir forma de remediar esta falta imperdoável.
Abraço amigo.
Querida Maria da Ilha,
Obrigada por tudo, mesmo. És linda e uma pessoa por quem tenho uma enorme afeição. Tu sabes disso, independentemente do meu silêncio prolongado poder levar a pensar o contrário. Hoje estou a penitenciar-me perante aqueles de quem gosto e a tentar arranjar forma de contornar esta falta de tempo que pode fazer parecer o que não é...
Até breve.
Envio-te um beijo cheio de ternura e saudade.
Querida Graça,
Muito obrigada pelo teu comentário, tão gentil. Tu pertences ao grupo de amigos que poderão (com razão) estar zangados comigo, porque não apareço no teu espaço há longo tempo. Repito o que já disse a outras pessoas de quem, igualmente, gosto muito: penitencio-me e vou procurar arranjar forma de evitar ausências prolongadas ou silêncios que possam levar a interpretações erróneas.
Beijos gratos e ternos, minha poeta de eleição.
Olá Mac,
Espantoso como ainda consigo surpreender-te... e como ainda ecoam em ti "sentires familiares".
Obrigada pela tua visita e comentário, que muito aprecio (sempre).
Um beijo com muito afecto e "aquele abraço".
E corres toda gotas, seixos e cristal. Regato, ribeiro.
Toda rio, cascata e areal.
A foz é ânsia e desejo,
e o mar... Ai esse mar.
Não se fica pelo abraço,
só lhe basta o naufragar.
Será que o rio se entrega no mar, ou nele se esgota porque perdeu as suas forças?
Enviar um comentário