Pôr-do-sol no Molhe Leste - Foto de António Rodrigues
Passo agora as tardes à beira-mar. Dou longos passeios pela baía - pés na água e cabeça nas nuvens. Apanho búzios vazios. Desenvolvi, recentemente, um afecto especial por este tipo de conchas. Chego a comover-me quando encontro alguns destes lindos habitáculos, outrora com vida. Beijo-os, quais amuletos. Começo a desenhar aquilo a que já chamo "a minha colecção de búzios da praia do Molhe Leste". Na Praia Norte, igualmente rica em belezas outras, apenas existem seixos, pequenos calhaus rolados, ou cascas de bivalves partidas. Tem a ver com a força da rebentação, explicou-me o António, que já foi pescador e que, tal como o marinheiro de Mishima, por amor perdeu as graças do mar. Estou eu agora a recuperá-las, as graças, penso eu para comigo, com um sorriso não de todo inocente.
Avançando no prazer da água, que me banha e de mim aparta as mágoas, perco a noção do tempo, rejuvenesço, sinto-me vigorosa e bela.
Ao entardecer, quando chegam as gaivotas e as traineiras regressam da faina, ainda por lá estou. Não arredo pé antes da hora do ocaso e, quase sempre, sou brindada com um vislumbre do paraíso: o sol a esconder-se na linha do horizonte, pintando toda a paisagem em tons de fogo, contrastando com o azul do mar profundo, a brancura da espuma das ondas, o ouro-velho do areal imenso.
No Verão da minha existência, vivo as mais lindas tardes deste fim de Primavera. À beira-mar. A coleccionar búzios.
12 comentários:
Quando nos lábios começa um continente suspenso no apelo líquido dos beijos há um barco que cresce nos meus olhos e, entre búzios verdes, escrevo água...
Gostei muito do texto que escreveste.
Um grande beijo
Eu publiquei o comentário em que falavas do meu livro de forma tão carinhosa e de como a tua mãe também tinha gostado. O blogger esteve com problemas e desapareceram-me algumas coisas.
Obrigada, minha querida amiga.
Lindo, MESMO, é o que escreveste, minha POETA de eleição.
Beijos grandes e ternos.
Pois foi, Graça. Eu comentei uma série de posts, nos blogues que visitei, e todos desapareceram. Inclusivamente, este meu post esteve "escondido" até hoje ao fim da manhã... Enfim!...
Agora parece que o blogspot já retomou a normalidade (esperemos!).
Beijo-te com o carinho de sempre, minha querida Amiga.
Não conheço a melodia mas bebo estas palavras..
Em mim há a certeza que sou em terra uma onda que o Mar perdeu.. serás tu um búzio cujas memórias te devolvem poemas com o som que vem do Mar?
...
Do som das ondas os búzios não esquecem
Acolhe a voz do mar em qualquer terra
Desde menina sou búzio da minha terra
O destino me fez ser ventania
Quando cantei conter-me não podia
Adros, Amaros, Palco, Vila Velha
E tudo que há em mim
Vitória, Amparo, Mãe Maria
Levaram-me às profundezas do mar
Todos tons de amor que herdei
Num só corpo não cabia
Espalhei o meu cantar
Notre-Dame, doce Maria
(Maria Bethânia)
Ah,
como os búzios podem significar
tantos sonhos!
Bjjsss
Bem verdade, amigo Vieira Calado!
Beijos.
Muito bonito, Íris.
Obrigada.
Beijinho.
São palavras tão singularmente belas as suas, Maria. E o nosso areal, que dizer dele? Que saudades de, eu mesma, coleccionar segredos e búzios no pavilhão auricular dos ouvidos...
Um dia destes, quem sabe, nos encontraremos por lá?
Beijo com muito carinho
Mel
Ah!... Tanto gosto de passar assim uma tarde, mas o tempo não chega para tudo! Um dia destes é mesmo isso que vou fazer! Depois conto-te...:)
Beijos!
AL
Querida Mel,
É bom saber que, além de tudo o resto, partilhamos lugares de afecto, como estes. Para quando o nosso encontro, constantemente adiado?
Beijos ternos.
AL, meu Amigo,
Fico na expectativa do que me contarás... um dia destes!
Beijo com carinho.
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