sexta-feira, março 16, 2007

Le Navire Nigth, um "filme falhado" de Marguerite Duras

"Le Navire Night", de Marguerite Duras
Copyright: Jean Mascolo
Chaque nuit à Paris, des centaines d’hommes et de femmes utilisent l’anonymat de lignes téléphoniques non attribuées qui datent de l’occupation allemande, pour se parler, s’aimer. Ces gens, ces naufragés de l’amour, du désir, se meurent d’aimer, de sortir du gouffre de la solitude.
"A pessoa que se desvela no abismo não se reclama de nenhuma identidade. Não se reclama senão disso, de ser semelhante. Semelhante àquele que lhe responderá. A todos. Há uma desobstrução fabulosa que se opera a partir do momento em que se ousa falar, ou antes a partir do momento em que aí se chega. Porque a partir do momento em que chamamos, tornamo-nos, somos já semelhantes. A quem? A quê? Àquilo de que nada sabemos. E é tornando-nos semelhantes que deixamos o deserto, a sociedade. Escrever é ser ninguém. "Estar morto", dizia Thomas Mann. Quando escrevemos, quando chamamos, somos já semelhantes. Tentemos. Tentemos quando estamos sós no nosso quarto, livres, sem qualquer controlo do exterior, chamar ou responder por cima do abismo. Misturar-nos à vertigem, à maré imensa dos apelos. Essa primeira palavra, esse primeiro grito, não sabemos gritá-lo. É a mesma coisa que chamar por Deus. É impossível. E faz-se".
M.D.

6 comentários:

Anónimo disse...

obrigada, maria, pelo comentário e pelo convite para vir ler este post que de facto gostei imenso ;) sobretudo a parte em que ela diz que "escrever é estar morto". uma citação brilhante. já conhecia uma parecida ao antónio lobo antunes. parece ser um sentimento geral nos grandes mestres da literatura. um grande beijinho e votos de bom fim de semana.

Anónimo disse...

Obrigada uma vez mais, e desta vez pelo magnífico texto da nossa querida Marguerite. Tão longe e tão perto me sinto das suas palavras...
Um beijo.

vida de vidro disse...

Um texto espantoso. "Misturar-nos à maré imensa dos apelos". Uma ideia de (quase) vertigem. **

Licínia Quitério disse...

A solidão nas linhas telefónicas.
A solidão de quem escreve.
Tantas solidões ou uma única?

Beijos.

M. disse...

Um problema do ser humano tratado de forma ímpar.

Teresa Durães disse...

MD é (foi) uma excelente escritora. Cada linha, cada página, é uma imensidão de emoções. Lembro-me de ter lido algures que não gostava de mostrar o que escrevia aos seus amantes/parceiros. Confundiam a escrita com a vida e não a deixavam liberta.

No seu livro "Escrever" (penso ser este o título) só a descrição do voo de uma mosca é algo indescritível.

Boa tarde