sexta-feira, janeiro 20, 2006

Os Paços de Dona Leonor


Juliet's Balcony


"Two households, both alike in dignity,
In fair Verona, where we lay our scene,
From ancient grudge break to new mutiny,
Where civil blood makes civil hands unclean.
From forth the fatal loins of these two foes
A pair of star-cross´d lovers take their life;
whose misadventur´d piteous overthrouws
Doth with their death bury, their parent's strife.

[...]
"The sun for sorrow will not show his head.
Go hence, to have more talk of these sad things.
Some shall be pardon'd and some punished.
For never was a story of more woe
Than this of Juliet and her Romeo."

from "Romeo and Juliet", by William Shakespeare

Como é sobejamente sabido, foi Verona, e não Peniche, que master Shakespeare escolheu para palco desta obra.
Poderiam ter sido Leonor e Rodrigo o par imortalizado na literatura, pelas semelhanças que a lenda de Dona Leonor, presença viva no imaginário das gentes de Peniche, apresenta relativamente à tragédia do mestre. Mariano Calado, no seu livro "Peniche na História e na Lenda", narra esta história de amor trágico conforme passo a transcrever:

"Conta-se que, no primeiro quartel do Séc. XVI, existiam em Peniche dois fidalgos que, reciprocamente, se odiavam: ódios velhos, nascidos porventura nos longos e temerosos cruzeiros das descobertas, de onde haviam trazido histórias fantásticas para contar e riquezas de sobejo para desbravar o torrão natal. E nada no mundo os fazia aproximar e esquecer a sua malquerença.
Quis Deus, todavia, que Rodrigo, filho de um deles, se enamorasse loucamente de Leonor, a bonita e prendada filha do outro dos fidalgos desavindos.
Sabedores do ódio profundo que separava seus pais, não ousavam os jovens enamorados revelar o doce afecto que os unia, não podendo, porém, evitar que transbordasse o alvoroço de amor que os aproximava. Descobertos então os sentimentos de ambos, e sem que nada houvesse a demovê-lo da sua decisão, resolveu o pai de Rodrigo degredar seu filho para a Berlenga, fazendo-o ingressar, como noviço, no Mosteiro da Misericórdia, de frades jerónimos, ali existente, a fim de que ele esquecesse tão indesejável e impossível união.
Obediente a seu pai, partiu Rodrigo para a Berlenga, com a alma cheia de revolta e de ansiedade.
Mas o amor é fértil em imaginação e, com a ajuda de Gil, um pescador seu amigo, fazia-se o jovem transportar num pequeno batel, todas as noites, até uma gruta situada nas penedias da costa meridional de Peniche, onde Leonor ansiosamente o aguardava assinalando a sua presença com a luz de uma pequena lanterna.
Por muitas e longas noites se repetiram os encontros dos dois jovens apaixonados. Mas, certa vez, descobertas as surtidas de Leonor, viu-se a donzela perseguida pelos servos de seu pai e, na precipitação da fuga, saltando de rochedo em rochedo, , resvalou sobre os seixos da encosta. E, na negrura da noite, tombou um grito de morte do alto da penedia, afogando-se na escuridão do mar que, em baixo, ciciava segredos e saudades.
Entretanto, para mais uma noite de amoroso convívio, chegou Rodrigo à vista da gruta. Não enxergando o sinal do costume, começou o jovem de sentir a alma repassada de surpresa e receio. Subiu a encosta, apressado, chamando pela bem-amada. Só o eco e o marulho das ondas lhe responderam. Tentou penetrar na noite, temendo alguma desgraça. Nada. Até que se lhe retalhou o coração de angústia ao ver a boiar em baixo, inútil, o manto branco da sua enamorada. Um grito de dor cresceu da sua alma ferida, enchendo de tragédia os recônditos mais negros dos rochedos. E, na esperança de salvar a sua amada, lançou-se Rodrigo do alto das arribas ao encontro da noiva que perdera...
Dias depois, nas areias do carreiro vizinho, alguém encontrou o corpo de Leonor, embalado docemente pelas ondas, os lábios iluminados por um sorriso triste e imaculado, constando que, piedosamente, o fizeram depositar no adro da capela de Santa Ana.
Quanto ao corpo do desventurado moço, diz também a tradição que foi encontrado na costa do norte, junto a uma rocha a que se deu o nome de Laje de Frei Rodrigo.
E ainda hoje, quem souber entender os murmúrios do mar e passear os olhos pela beleza que se distende por toda a costa sul de Peniche, pressentirá a doçura inefável de um mistério cheio de encantamento e poesia: talhada romanticamente nas arribas, a gruta que foi teatro de tão trágico amor e a que o povo, religiosamente, chama Paços de Dona Leonor, lá está, altiva e serena, a aguardar, numa renovada esperança de juventude, o regresso feliz dos dois enamorados..."


2 comentários:

Anónimo disse...

"
Yo no quiero un amor civilizado
con recibos y escena del sofá;
yo no quiero que viajes al pasado
y vuelvas del mercado
con ganas de llorar.
Yo no quiero vecinas con pucheros;
yo no quiero sembrar ni compartir;
yo no quiero catorce de febrero
ni cumpleaños feliz.

Yo no quiero cargar con tus maletas;
yo no quiero que elijas mi champú;
yo no quiero mudarme de planeta,
cortarme la coleta,
brindar a tu salud.
Yo no quiero domingos por la tarde;
yo no quiero columpio en el jardín;
lo que yo quiero, corazón cobarde,
es que mueras por mí.

Y morirme contigo si te matas,
y matarme contigo si te mueres.
Porque el amor cuando no muere mata,
porque amores que matan nunca mueren.

Yo no quiero juntar para mañana;
no me pidas llegar a fin de mes;
yo no quiero comerme una manzana
dos veces por semana
sin ganas de comer.

Yo no quiero calor de invernadero;
yo no quiero besar tu cicatriz;
yo no quiero Paris com aguacero
no Venecia sin ti.

No me esperes a las doce en el juzgado;
no me digas "volvamos a empezar";
yo no quiero ni libre ni ocupado,
ni carne ni pecado,
ni orgullo ni piedad.
Yo no quiero saber porque lo hiciste;
yo no quiero contigo nin sin ti;
Lo que yo quiero, muchacha de ojos tristes,
es que mueras por mí.

Y morirme ..."

Rita Ferro
in "Os Filhos da Mãe"

Anónimo disse...

"ni Venecia sin ti" !!!!!